quinta-feira, 4 de julho de 2013

Filme: Redenção (2013)

Redenção tem os seus momentos e a história, embora pobremente aprofundada, é interessante. Redenção não evita, todavia, alguma sensação de já visto e já feito. Statham apresenta-se bem num papel diferente.

Joseph 'Joey' Smith (Jason Statham) é um ex-militar da Exército Britânico que desertou as suas funções após imperdoáveis crimes de guerra. Agora um sem-abrigo na Londres clandestina, Joey limita-se a sobreviver. Um dia, em fuga, Joey encontra um apartamento vazio e decide assumir uma identidade falsa. Joey tenta mudar a sua imagem e a sua personalidade, ao mesmo tempo que investiga o desaparecimento de uma amiga sua e se aproxima de uma freira local, Irmã Cristina (Agata Buzek).

Steven Knight é conhecido pelos seus argumentos, tal como o de Promessas Perigosas de David Cronenberg. Redenção, que também assina, constitui o seu primeiro projecto de realização. A intenção de Knight de se provar capaz de segurar as rédeas de toda uma produção é logo visível na forma como começa Redenção com um primeiro quarto de hora essencialmente visual e escasso em diálogo, onde apresenta o anti-herói Joey numa Londres clandestina e insegura. De momentos a momentos, Knight parece homenagear Biutiful de Alejandro González Iñárritu, onde outra grande cidade europeia (Barcelona) conhecida pelas suas atracções turísticas é desconstruída e analisada sob uma lupa escrupulosa e denunciante. Knight denuncia aqui os problemas londrinos, mantendo o grande centro cosmopolita à distância na sua câmara como uma bonita visão ilusória e inalcançável. Mas onde Iñarritu tinha uma narrativa segura e deslumbrante, Knight tem uma que, não querendo ir mais longe, peca pela pouca singularidade, a começar pela própria personagem de Joey, um ex-militar com transtorno de stress pós-traumático já revisitado tantas vezes anteriores em incarnações mais competentes.

Onde Knight reinventa é na forma como lentamente transforma Joey num anti-herói que tanto pratica o bem, procurando a sua redenção pelos crimes perpetrados na guerra do Afeganistão, como o mal, prologando a sua espiral doentia e recessiva, pontuada pelos sons agitados de beija-flores que remetem para a guerra e os seus vícios. Assumindo numa feliz coincidência uma identidade falsa, Joey ganha alguns meses para endireitar a sua vida, mas nunca procura a sua redenção completamente, embora a espaços faça grandes esforços impensados nesse sentido; o seu caminho contrasta com o da Irmã Cristina, uma jovem freira que também foge do seu passado e procura activamente endireitar-se. Quando as intenções de Joey e Cristina estão alinhadas, ambos se transformam; quando não estão, perdem-se, e perdem também os carecidos da Londres clandestina.     

Jason Statham tem em Joey a oportunidade para mostrar que é mais do que um simples, e por vezes reles, actor de filmes de acção e pancada. Statham consegue superar-se, embora o estranho sotaque britânico que nunca lhe assenta muito bem. A acção que existe em Redenção é meramente acessória e Statham controla-se e evita exageros. É lamentável que Knight, no entanto, não tenha visto em Statham uma oportunidade para explorar com outra dimensão e profundeza a personagem Joey, cingindo-o a certo ponto da narrativa a alguém concentrado numa vingança simples. A desconhecida polaca Agata Buzek tem um papel interessante, e mesmo polémico, em Cristina, mas as suas deficiências de representação são dissuasoriamente patentes.   


Redenção representa dois caminhos condenados pelas vicissitudes da vida e o final em aberto e distinto de cada um aponta para o papel imperioso da vontade de mudança. Se há algo a extrair desta produção, é esse e é pertinente. Tudo o resto é essencialmente genérico.

CLASSIFICAÇÃO: 3 em 5 estrelas

Trailer: 

1 comentário:

  1. Boa noite eu concordo em parte com a vossa análise, mas dou-lhe uma maior classificação.
    Dei quatro estrelas ao filme e eu cá gostei muito do desempenho da atriz Agata Buzek, tal como da química com o ator Jason Statham.
    O que falhou a meu ver foi a pouca aprofundada relação do protagonista com a família, o pequeno papel atribuído a Ian Pirie e um final um pouco aberto que deixou-me a pensar “será sinal de sequela”.

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