terça-feira, 22 de outubro de 2013

Filme: Capitão Phillips (2013)

Capitão Phillips transporta o espectador para o noticiado assalto pirata somali em 2009 com suspense, intensidade e respeito pela condição social. Tom Hanks mostra-se de regresso à plenitude do seu talento.

Richard Phillips (Tom Hanks) é capitão do porta-contentores norte-americano Maersk Alabama, que se encontra numa viagem até ao Corno de África para entregar mercadoria e ajuda humanitária. Ao largo da Somália, o Maersk Alabama é alvo de uma abordagem por um resoluto grupo de piratas, liderado por Abduwali Muse (Barkhad Abdi), uma que só poderá ser resolvida com a astúcia de Phillips e com os recursos da marinha norte-americana.

Em 2009, a captura do porta-contentares norte-americano Maersk Alabama por piratas somalis fez cabeçalho pelos meios informativos de todo o mundo. A operação de resgate da tripulação do Maersk Alabama e do seu capitão, tomado como refém, foi acompanhada à distância com a ambiguidade que uma atípica situação noticiosa como esta significa, com inevitáveis informações e contra-informações. Capitão Phillips, baseado no relato de eventos A Captain's Duty: Somali Pirates, Navy SEALs, and Dangerous Days at Sea escrito pelo próprio capitão do Maersk Alabama, faculta uma excepcional e detalhada visão por dentro dos provados acontecimentos, colocando o espectador em sufoco e em suspense durante o processo de intensa rotação.

O primeiro momento de tentativa de abordagem pelos piratas da Somália é assustadoramente intenso; o segundo, com sucesso, é de cortar a respiração. Todavia, a forma como Phillips parece tranquilo e preparado ante a iminente ameaça, com todos os seus ardis e sacrifícios para manter a sua tripulação a salvo, enche o espectador com o calor da serenidade. Phillips parece capaz de manter as rédeas da situação; durante a primeira metade, Phillips é deveras capaz de resolver o problema sem males maiores. Mas há, do outro lado, um grupo de piratas desesperado, perdido, sem nada a perder numa vida pobre dada à contínua miséria; um grupo que, recusando-se a reconhecer a situação precária em que se colocou, procura extrair o maior proveito a todo o custo. Capitão Phillips defende tanto a bravura do capitão do Maersk Alabama quanto a inocência relativa do grupo pirata, não vedando os olhos às disparidades sociais no Corno de África que resultaram neste imbróglio.  

A intervenção pela marinha norte-americana na operação de resgate de Phillips, por mais que verídica, ostenta um lado de costumeira vanglória americana que parece inevitavelmente exagerado e pode causar algum aborrecimento. Não obstante, o realizador Paul Greengrass mantém a exuberância cinematográfica suficiente para se absolver do excessivo americanismo, tornando o aparatoso exercício militar num acessório para a medição de forças entre Phillips e Muse. Aqui, as barreiras linguísticas (os diálogos entre o grupo pirata nem sempre são alvo de tradução) desempenham um papel importante no estorvo da resolução pacífica e na desorientação global do espectador.

Capitão Phillips pontua-se pela velocidade de cruzeiro, mas nunca perde sentido da alta rotação. Paul Greengrass, a partir do momento em que o grupo pirata surge, investe numa direcção frenética, desorientadora e, por vezes, claustrofóbica, aplicando uma fotografia discreta, uma montagem metódica e uma vital banda sonora pulsante com tons étnicos e culturais. Paul Greengrass consegue de Tom Hanks, cujo não parece alguma vez mal sobre águas, uma actuação potente e revitalizante; o mérito reparte-se com a qualidade interpretativa que obtém do desconhecido elenco somali, particularmente do estreante Barkhad Abdi enquanto Abduwali Muse, um papel que poderia facilmente cair na ostracização.    


Capitão Phillips, na linha de 00:30 – A Hora Negra, é outra fantástica interpretação cinematográfica de eventos reais onde a intervenção militar toma um lugar acessório e a intervenção pessoal um lugar de relevo. Se com 00:30 – A Hora Negra Jessica Chastain reuniu louvores à sua volta, é previsível que Tom Hanks alcance semelhante nível de consagração. Capitão Phillips, à sua maneira, é pelo menos tão surpreendente.    

CLASSIFICAÇÃO: 4 em 5 estrelas


Trailer:

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