sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Filme: Filomena (2014)

Baseada num caso verídico, Filomena narra uma história emotiva de busca e perdão que encontra Judy Dench numa interpretação exímia e dedicada. Um filme intrinsecamente britânico que move pelo seu decoro. 

Na adolescência, Filomena Lee (Judy Dench), uma rapariga irlandesa, engravida e dá à luz a um filho, Anthony. A viver e a trabalhar num convento, Filomena assiste, contra a sua vontade, à inesperada adopção de Anthony por uma família norte-americana. Cinquenta anos mais tarde, e sem ter qualquer rasto do seu filho, Filomena aceita a ajuda do jornalista Martin Sixsmith (Steve Coogan) para descobrir o paradeiro de Anthony, uma investigação que a levará aos Estados Unidos.

Filomena, etapa-a-etapa, revelação-a-revelação, acompanha a busca de Filomena Lee, apoiada pelo jornalista caído em desgraça Martin Sixsmith, sem nunca colocar o que é por si só uma história desoladora ao serviço da mera exposição dramática. A investigação é feita com naturalidade e Filomena Lee, embora a crueldade, não é vitimizada da forma que poderia ter tão naturalmente (e, porventura, legitimamente) sido. Filomena permanece graciosamente positiva, mesmo quando se rodeia de todas as razões para se enfurecer e se sentir injustiçada. Não significa, todavia, que Filomena esteja desprovida de sentimento; pelo contrário, Filomena, católica devota, rege-se assertivamente pelos valores do perdão e da compreensão. Ironicamente, as inquirições de Filomena e Martin a membros da Igreja Católica relevam uma clerezia retraída e dolosa, predisposta à acusação e à marginalização imediatas. Se o filme exagera ou não na sua demonização eclesiástica não é propriamente relevante; importante é a aferição que faz da crueldade humana na maneira como mostra a assustadora facilidade com que alguém separa uma mãe do seu filho e como, mais tarde, se rodeia de pretensos moralismos para continuar a justificar e a manter tal separação.

Não fosse o vínculo verídico retratado no livro The Lost Child of Philomena Lee que Steve Coogan e Jeff Pope adaptam, a maneira como a busca de Filomena e de Martin se concretiza pareceria demasiado perfeita e completa, concluindo-se num full circle excessivamente cinematográfico. Naturalmente, Filomena não é isento dos seus excessos puramente narrativos, mas a narrativa funciona de forma agregadora, conjugando o real com o acessório para criar fluidez e sentido (no qual é epíteto as imagens em Super 8 de etapas na vida de Anthony). Aliás, em relação aos eventos na vida de Anthony, é meritória a forma como Stephen Frears, focando-se em momentos felizes e marcantes, captura pequenos olhares de Anthony que mostram uma certa tristeza e solidão, revelando um vazio que o filho de Filomena eventualmente deslindará com a idade. 

Filomena é um filme britânico na sua espinha, refreando-se com a habitual rectidão que acompanha a maioria das produções da terra de Sua Majestade. Stephen Frears encontra um bom balanceamento entre as várias frentes, combinando a excelente fotografia de Robbie Ryan com a montagem cadenciada de Valerio Bonelli e a belíssima música de Alexandre Desplat. Por seu lado, Stephen Frears deve também a qualidade da sua película às prestações de Judy Dench e Steve Coogan. Dench, amável e graciosa, dá outro acto de classe em toda a sua reconhecida capacidade, mantendo-se na forma que a coloca no restrito grupo das melhores actrizes vivas. Steve Coogan entrega uma interpretação inspirada, dando corpo e alma a Martin Sixsmith sem tornar a personagem genérica. 

Filomena é um trabalho emotivo, sensível e comedido. A história de Filomena Lee provocará no espectador um sentimento de revolta – muito se deverá à demonização prosseguida por Stephen Frears. Contudo, a força da narrativa reside na forma como Filomena se mostra, em toda a sua singeleza, moralmente evoluída. Uma história e uma lição de superação imperdível!    

CLASSIFICAÇÃO: 4 em 5 estrelas


Trailer:




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