quinta-feira, 5 de junho de 2014

Filme: Maléfica (2014)

Embora amaldiçoado por efeitos visuais em excesso, Maléfica consegue transformar um conto clássico numa história fresca e viva, pontualmente deslumbrante, com Angelina Jolie absolutamente enfeitiçadora.

A fada Maléfica (Angelina Jolie) vive em Moors, uma terra recheada de criaturas mágicas que faz vizinhança com um reino humano. Quando o humano Stefan (Sharlto Copley) trai Maléfica para se tornar rei, a fada decide protege Moors a todo o custo e vingar-se de Stefan com uma maldição sobre Aurora (Elle Fanning), a princesa recém-nascida. Com os anos, Aurora revela-se muito diferente do que Maléfica esperava, mas pode ser demasiado tarde para corrigir o seu erro.

Depois de Alice no País das Maravilhas em 2010 e de A Branca de Neve e o Caçador em 2012, a Disney continua em 2014 a sua aposta na conversão para carne-e-osso dos seus clássicos de animação com Maléfica. A história de Bela Adormecida é quiçá um dos contos de fada mais conhecidos, um que a versão de animação da Disney de 1959 reproduz fielmente. Nesta versão de carne-e-osso, o realizador estreante Robert Stromberg assume sem medo a introdução de uma reviravolta na famigerada história. Maléfica, a personagem, uma das vilãs mais icónicas dos contos de fada, não é em Maléfica, o filme, a representação maligna que lhe atribuímos. Mostra-se capaz do melhor e do pior, da bondade e da tirania, da vingança e da justiça. As reacções e os diferentes estados de Maléfica provam que a sua alma é intrinsecamente humana, fadada a comportar-se por impulso e pelo momento, característica que a torna mais relacionável com o público.

Esta dicotomia entre o heroísmo e a maleficência mostra a tendência recente para colocar em campo cinzento os tradicionais heróis e vilões. Por um lado, sugere que a bravura e a bondade não são tão fáceis de atingir quanto os contos clássicos fazem crer; por outro, aponta para as oportunidades de redenção ao alcance de todos. Embora a indefinição deste campo cinzento crie complexidade numa história de campos simples – o Bem e o Mal –, Maléfica mantém simplicidade na sua narrativa; afinal, parte do seu público-alvo, se não todo, é o mais jovem. Talvez por essa razão, Maléfica nunca chega a ser tão negro quanto alguns momentos sugerem que possa vir a ser e o humor abunda muito mais do que se imaginaria (maioritariamente indexado às três fadas-madrinhas da Princesa Aurora).           

A reviravolta na história amplia a utilidade desta versão de Robert Stromberg, mas ajuda (ou, melhor, importa sobejamente) que no papel principal esteja Angelina Jolie. Da dicção suave e enternecedora ao tom ameaçador e endiabrado, Jolie veste a pele de Maléfica com uma interpretação assinalável. É a mais-valia do filme e eventualmente a principal razão para a sua visualização. Os efeitos visuais à volta de Jolie não são imersivos o suficiente para lhe reduzir o destaque, mas apresentam-se excessivamente trabalhados para as necessidades da narrativa. Robert Stromberg tem uma experiência longa enquanto artista de efeitos visuais e director de arte em filmes como Avatar, Alice no País das Maravilhas e Oz – O Grande e Poderoso; a influência de tais projectos é aqui evidente. A região mágica de Moors, com as suas criaturas fascinantes, é deslumbrante e encantadora, mesmo no período mais negro que procede a fase obscura de Maléfica; o reino humano, por outro lado, é menos surpreendente e simpático, parecendo, curiosamente, mais artificialmente fabricado (o CGI nos grandes planos do castelo do Rei Stefan é indesejavelmente óbvio).


Robert Stromberg procura com alguma religiosidade provocar o conflito e o momento de acção, onde o seu talento pode ser exponenciado. Todavia, são os instantes pausados e ternos, envolvidos na bonita orquestra de James Newton Howard, que vendem esta adaptação. Toda a infância da Princesa Aurora reflecte esta sensação: Maléfica torna-se empática, a narrativa torna-se pela primeira vez envolvente e há até espaço para Vivienne, filha do casal Jolie-Pitt, brilhar. Capaz de entreter miúdos e graúdos, Maléfica só não é excepcional porque Robert Stromberg teme tratar a sua câmara com a devida meiguice.

CLASSIFICAÇÃO: 3,5 em 5 estrelas


Trailer:

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